quarta-feira, 14 de maio de 2008

 

EM 08 DE FEVEREIRO DE 2005 - DIZIA: "ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA DA ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DA BERLENGA"

ESTE ESCRITO, PARA ALÉM DE APONTAMENTO HISTÓRICO, ACABOU, POR FORÇA DAS CIRCUNSTÂNCIAS, POR SER UMA HOMENAGEM PESSOAL AO MEU AMIGO RUI JORGE GONÇALVES. As instalações da antiga Pousada da Berlenga, já encerrada a alguns anos por inviabilidade económica, vinham sendo objecto de actos de vandalismo por parte de pessoas que, não sendo capazes de melhor, só pensavam em destruir. Na época conturbada após o 25 de Abril de 1974 e, perante o surto de ocupações selvagens que então se verificava, um grupo de pessoas ligadas à Berlenga, por ali passarem os seus tempos de lazer e férias, reuniram-se para analizar a situação, preocupadas com o facto do forte e as instalações da citada pousada poderem vir a ser ocupadas por uma qualquer entidade estranha à então vila de Peniche. Com esta preocupação e não querendo alinhar por atitude semelhante ao que pretendiam evitar, apresentaram-se junto da então Secretaria de Estado do Turismo com vista a solicitar que fosse concedida autorização oficial para assumirem o controlo das instalações e nelas instalarem o que denominaram de "Casa Abrigo", conforme projecto que apresentaram. E qual era o projecto? Como se referiu a instalação de uma casa abrigo de modo a permitir o aproveitamento das instalações da pousada para a passagem de férias a pessoas e grupos interessados. Perante a exposição detalhada do projecto, os responsáveis da Secretaria de Estado deliberaram apoiá-lo desde que a edilidade local também o fizesse, delegando na comissão a utilização do imóvel e seu conteúdo. Isto porque a comissão constituida não possuía, à altura, personalidade jurídica. Apresentada a situação à então Comissão Administrativa da Câmara, esta não colocou qualquer obstáculo, antes apoiou o projecto, o que levou a comissão a concretizar a sua intenção. Como primeiro passo, foi efectuada uma reunião no Forte de São João Baptista entre a representante da Secretaria de Estado (D. Maria Laura Archer de Brito), a anterior concessionária (D. Hermínia Parreira) e elementos da Associação dos Amigos da Berlenga, procedendo-se , de seguida, à inventariação total do recheio da pousada, ainda existente. A associação tomou posse apenas do mobiliário existente e de uma pequena parte de loiça. O restante recheio foi levado pela Secretaria de Estado, como nos referiram, a fim de ser distribuído pelas pousadas em funcionamento. Foi a partir deste último passo que a Associação dos Amigos da Berlenga empreendeu os trabalhos de instalação da casa abrigo de acordo com o seu projecto. Em termos gerais o regulamento da casa abrigo apenas permite a permanência de sete dias por ano a cada utente, segundo inscrição prévia. Cada utente utiliza as instalações de um quarto, apenas mobilado, tem direito a utilizar uma cozinha comum com armário privativo, recebe por dia quinze litros de água potável e o direito de adquirir os consumíveis necessários num minimercado para o efeito instalado, de onde se deduz que terá que levar consigo a roupa de cama e utensílios de cozinha. Como contrapartida pagam uma taxa diária de utilização que cobre os estimados encargos de manutenção. Os trabalhos da comissão começavam nos meses de Março/Abril durante os fins de semana em que o mar permitia, para que no dia 10 de Junho tudo estivesse pronto a ser utilizado. Esta acção conjunta dos elementos da comissão que se deslocavam até à ilha proporcionou muitos momentos de agradável convívio, mas também muito esforço para efectuar os mais variados trabalhos, muitas vezes sem as condições e equipamentos necessários. Foram efectuadas terefas pouco imagináveis tais como, recuperar o que restava das velhas instalações de electricidade, de água e de esgoto, recuperação dos velhos geradores, transportar e organizar os consumíveis para venda no mini-mercado, transportar combustível, fazer o tratamento das águas captadas, pintar e caiar todo o edifício, arejar e secar os colchões que estavam sempre muito húmidos, tal como o mobiliário, o que originava a total ocupação do terreiro da fortaleza. Conseguiu-se, assim, manter até aos dias de hoje o monumento e instalações ligados à nossa terra. Sempre foi sentimento dos elementos que constituíram as comissões administrativas que a seu tempo viria um rumo mais consentâneo com o exigível nos tempos que correm, porém, como é hábito entre nós, só se sabe sonhar com altas cavalarias e quase sempre se fica por águas de bacalhau. Tem aqui todo o cabimento uma palavra de louvor para a pessoa que, carregando com incompreensões de vário tipo, tem, de uma forma pertinaz e com muito esforço e dedicação, mantido a chama até aos dias de hoje. Nota : Este texto estava escrito e para publicação antes de se verificar o falecimento do meu amigo Rui Jorge Gonçalves. O que então dizia serve-me agora para prestar a minha homenagem ao homem que que se dedicou sempre com paixão e desinteresse às causas que abraçou. Era, aliás, esta uma das suas características, a que alio, por testemunho próprio, a lealdade para com os que lhe mereciam a sua dedicação. A Berlenga e a Associação dos Amigos da Berlenga, fizeram parte das suas paixões e, portanto, beneficiaram muito do seu trabalho e dedicação. Penso, por isso, que Peniche ficar-lhe-á a dever uma palavra de agradecimento. A sua obra ficará a precisar que lhe seja dada continuação. Iremos agora apreciar o real valor do seu trabalho e dedicação. É preciso que não se deixe desmoronar a sua obra. É preciso que se fique atento ao aparecimento de qualquer ave estranha à fauna da Berlenga que retire a Peniche e aos penicheiros (e não só ) aquilo por que o nosso amigo tanto lutou. Rui, um abraço.

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