sábado, 28 de junho de 2008

 

ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA DA PESCA EM PENICHE - UMA FIGURA A NÃO ESQUECER


Vou ter a ousadia de tentar falar de uma figura a quem o sector da pesca muito deve. Trata-se do senhor Acácio de Sousa Lacerda e do seu estabelecimento denominado AAA. Tenho a certeza que, ao fazê-lo, estou a contrariar aquilo que seria a sua vontade, porque as pessoas da sua estatura não gostam que se fale delas.
Quando o sector da pesca vivia em Peniche sem qualquer tipo de apoio e até ao crédito não era fácil recorrer, foram algumas entidades fornecedoras que custearam o aparecimento de novas unidades de pesca e ajudaram muitas outras a ultrapassar épocas de crises profundas.
De entre estas entidades teve um realce muito especial a pessoa de quem tenho vindo a falar, dada a sua, muito peculiar, forma de lidar com os seus clientes e a predisposição para ajudar a ultrapassar as suas carências. E assim foram muitos os pescadores armadores que beneficiaram da sua ajuda oportuna, beneficiando do seu crédito directo e da credibilidade da sua intervenção junto das empresas suas representadas.
Estou certo que ainda haverá casos que, ao lerem estas linhas, se for caso disso, se reconhecerão como devedores da sua gratidão por benefícios auferidos. Era o tempo em que as relações entre as partes do negócio se desenvolviam na base da credibilidade e capacidade das pessoas e aqui é que funcionava a perspicácia e a intuição do Snr. Lacerda. Esta conduta desenvolveu-se ao longo de muitos e muitos anos, assim sendo a actividade principal da nossa terra viveu e cresceu muito com a sua ajuda.
Por isso, também Peniche lhe deve estar grata pelo contributo prestado ao desenvolvimento da sua principal actividade económica. As populações, como as pessoas, devem saber reconhecer e ser gratas àqueles que, de alguma forma, contribuiram para o seu engrandecimento.
Desconheço se esta figura recebeu da edilidade local alguma manifestação do apreço que lhe é devida. Como a sua vida foi sempre de trabalho e não lhe conheci ligações a qualquer tipo de actividade política, receio bem que o seu nome tenha caído no esquecimento total.
Em Fevereiro de 2005.

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segunda-feira, 2 de junho de 2008

 

EM 01 DE MARÇO DE 2005 - DIZIA "ELEMENTOS PARA A HISTÓRIA DAS COLECTIVIDADES DE CULTURA E RECREIO"


Já decoreram 55 anos desde a época em que, com 13 anos, tive o meu primeiro contacto com a Associação Recreativa Penichense. Estava sediada na Rua José Estêvão ao lado da ainda existente Farmácia Central. Era uma colectividade frequentada por elementos da classe média local, constituida por quadros da administração local, funcionários administrativos, comerciantes, negociantes de pescado, mestres e motoristas marítimos, etc., etc.
Recordo a sua ampla escadaria de acesso, pois estava instalada num 1º andar, as duas portas de acesso, quer ao salão de festas, quer à sala de convívio, que se encontravam ao cimo da mesma. Ao passar-se a porta em frente entrava-se na sala de convívio onde dominava um imponente armário que constituía a biblioteca da colectividade, de onde requisitei os primeiros livros que li por indicação da escola que frequentava. Depois desenvolvia-se a sala de convívio com um recanto de leitura e uma mesa de bilhar e, num plano ligeiramente superior, um bar, uma sala de jogos, um pequeníssimo gabinete de direcção e uma insipiente instalação sanitária. Para além das divisões referidas havia então o salão de festas, cuja área equivalia ao restante conjunto e que tinha acesso tanto pelo cimo das escadas, como pelo lado da sala de convívio.
Na sala de convívio existiam os jornais diários, sempre muito procurados pelos presentes e um aparelho de telefonia da marca "Mediator" salvo erro, do qual se ouviam, com muita atenção, as notícias do dia em especial e os relatos dos desafios de futebol. E é este aparelho de telefonia o centro da história que hoje vou trazer ao vosso conhecimento.
A colectividade era intensamente frequentada pelos seus sócios, tanto no dia a dia como, em especial, nos dias festivos, em que a colectividade proporcionava o convívio muito familiar entre os associados, para além de outras actividades ocasionais, nomeadamente o teatro amador.
Todo este interesse pelo usufruto da colectividade e a pressão dos muitos interessados em pertencer ao seu grupo de associados começou a gerar o sentimento de necessidade de instalações mais amplas. Começaram então a aparecer as primeiras ideias de se procurar sair do espartilho daquelas instalações e procurar partir para novos horizontes. Esta imagem ia ficando arreigada, cada vez com mais intensidade, no espírito de todos os associados e foram aparecendo algumas hipóteses que não puderam ter seguimento.
Entretanto a rapaziada jovem também começou a pretender obter da colectividade alguma forma de diversão, dado que aquilo dos jornais e do bilhar não era satisfatório, e resolveram solicitar à direcção uma autorização especial para organizarem umas matinés dançantes no salão de festas.
Que diabo de problema que os "putos" se haviam de lembrar de arranjar. Foi um quebra cabeças para os elementos da direcção, havia que conciliar vários interesses dado que o velhinho "Mediator" era a peça em disputa entre os idosos frequentadores, que não podiam abdicar do seu relato de futebol, e a rapaziada, que para além de lhes quererem levar o aparelho até íam fazer barulho. Enfim, foram aquilo a que agora se chamam negociações duras, começaram a haver aliados para ambos os lados. Um dia, após mais uma sessão de pressão sobre a direcção, saíu a sentença final sob a forma de uma experiência, que não tinha garantia de continuidade e com condições a observar.
Então a rapaziada foi autorizada a utilizar a telefonia "Mediator" apenas após a conclusão dos relatos do futebol e desde que fosse garantida a presença de um director para acompanhamento dos acontecimentos. Chegou então a hora de organizar a primeira matiné. Lá fomos convencer o director que devia estar presente, transportamos com o cuidado de santo em andor o aparelho de telefonia para o salão de festas e colocamo-lo no palco em cima de uma pequena mesa de jogo de pano verde, anexamos um gira discos e, com a ajuda de não mais que meia dúzia de discos, lá levamos a efeito a primeira matiné dançante, com a presença de umas poucas moças previamente contactadas.
Tudo correu da forma mais ordeira possível e sem dar origem a qualquer reclamação por parte dos restantes utentes das instalações da colectividade. Esta situação permitiu que a experiência se repetisse com alguma assiduidade até que alguém se lembrou que estava ali uma forma rentável de se iniciar o movimento Pró-Sede que viria a existir por alguns anos. O grupo de rapazes foi convidado a colaborar na comissão juntamente com alguns elementos da direcção.
Decorridos uns bons anos, ao longo dos quais o grupo se manteve coeso, as matinés das tardes de domingo na Associação foram um acontecimento que extravasou os limites do nosso concelho e trazia a Peniche muita junventude dos concelhos limítrofes. Claro que todo o equipamento acústico da sala foi sendo melhorado e atingiu níveis bastante satisfatórios para a época. Quando acabavam as matinés, próximo da hora de jantar, era um arraial de gente que enchia a rua.
Chegou então a altura da direcção dar passos muito efectivos na concretização do sonho da colectividade. A comissão Pró-Sede orgulhava-se dos cerca de Esc. 280.000$00 que tinha arrecadado através das entradas de Esc. 2$50. Foi uma participação importante a juntar a muitas outras boas vontades que foi preciso mobilizar e que permitiram concretizar o sonho.
Foi necessário alterar os estatutos e a designação da colectividade, dando o caracter de colectividade também desportiva, com vista a obter ajuda estatal. E assim da velhinha Associação Recreativa Penichense nasceu a actual Associação de Educação Física Cultural e Recreativa Penichense.
Foi então possível atingir novos horizontes, mas muito "sangue suor e lágrimas" ainda foram exigidos dos sócios da colectividade e muito em especial das respectivas direcções. Apenas um apontamento exemplificativo do esforço e dedicação exigidos. A mudança para as novas instalações foi feita por altura do carnaval e as condições de efectuação dos bailes da época foram as seguintes: O edifício apenas tinha o telhado, as portas e janelas, todas as paredes em reboco, o chão da sala de baile em cimento não afagado, o chão do rés do chão e escadaria também em cimento, o átrio de entrada eram umas caixas de ar cheias de areia da praia e com estrados dos que se usam no acesso às praias a permitirem a passagem. Apesar de tudo isto a alegria das pessoas era imensa e a vontade de vencer as dificuldades ainda maior. Nos tempos que correm, com a mentalidade existente de que, apenas me associo ou interesso por algo se daí tirar bom proveito, não seria possível levar por diante o feito que constituiu o acabamento das instalações hoje existentes.
Em 01 de Junho de 2008 - Gostaria de acrescentar que tenho pena de constatar que esta velha e importante colectividade não está a despertar nos seus associados o interesse de outros tempos.
Serão sinais do tempo que corre, ou será que a colectividade não soube adaptar-se às novas exigências. É pena que se tenha esta sensação, sem que se pretenda desvalorizar o trabalho e esforço de quem a tem dirigido.

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