quarta-feira, 16 de agosto de 2017

 

BERLENGA


Pensando no que se está a passar hoje na nossa Berlenga, fui reler o que, ao longo dos anos, escrevi sobre ela. O texto que reproduzo foi publicado na “Voz do Mar” e será um pouco extenso para a publicação por esta via, porém, entendi que a sua actualidade justifica a ocupação de tempo. Aqui fica o desafio:

BERLENGA A MAL AMADA!
Novembro de 1994
A ousadia que me permita abordar um tema tão problemático e polémico como é o de emitir algumas opiniões acerca desta nossa joia turística, encontra alguma justificação no muito amor que lhe tenho, naquilo que já contribuí para a sua defesa e no desejo de continuar a ser-lhe útil, que é o mesmo que ser útil à nossa cidade.
Não haverá ninguém minimamente atento ao que é o interesse turístico local, que não inscreva a Berlenga como o principal polo de atracção dos que nos visitam.
Justifica-se, portanto, um cuidado especial no tratamento de tudo o que ali se instale, se pretendermos manter o interesse e a melhor dignidade daquele local.
A sua pequena área global e o reduzido espaço reservado à prática de actividades turísticas, vêm aguçar a necessidade do constante acompanhamento de tudo o que ali se passa. Isto se não quisermos correr o risco de observar que, afinal quem põe e dispõe de uma peça tão importante para nós penicheiros e para o interesse da nossa cidade, são os estranhos ao nosso burgo, quantas vezes desfasados da realidade histórica que aquela ilha sempre representou para os penicheiros e, quase sempre, pouco motivados para encarar a solução dos problemas pela óptica do interesse local.
O que acabo de referir não tem qualquer intenção de atingir o conjunto de entidades que, por razões de ordem legal, terão o direito de intervir a vários níveis. O que quero referir e acentuar com muita persistência é o respeito que todas elas devem à população de Peniche e salientar que as entidades locais não se podem demitir das suas responsabilidades, deixando-se ultrapassar.
Por isso considero preocupante a continuada atitude de deixar andar as coisas perfeitamente ao sabor dos acontecimentos, facto revelador de que não existe qualquer plano a cumprir, esperando-se que o encanto natural daquelas paragens vá chegando para contentar quem ali demanda.
Comecemos por analisar o local que se destinou à prática do campismo. Para além de uma primeira preparação do terreno em forma de socalcos, hoje já em fase de destruição, nada mais foi feito no sentido de proporcionar aos utentes as condições necessárias. A velha escadaria de acesso à praia está em vias de desaparecer e o seu uso está a tornar-se perigoso. Urge, por isso, proceder à sua recuperação, não só porque é útil aos utentes do pseudoparque, como constitui uma velha edificação do tempo do mosteiro. O acesso até ao caminho do farol não oferece condições de segurança, especialmente quando da utilização noturna dada a falta de iluminação da zona até à curva do farol, através de pontos de luz instalados de forma dissimulada no murete que ladeia o caminho, como chegou a estar projectado. Os locais de recolha de lixo são manifestamente insuficientes, do que resulta a existência dos excessos fora dos mesmos e acessíveis ao assalto pelos ratos e gaivotas que por ali proliferam. A casa que lhe está próxima, a denominada casa da palha, deveria constituir um ponto de apoio aos utentes, quer como local de reunião, quer como abrigo de emergência e local de controlo do parque. A água que existe nas antigas cisternas do farol, que ao que parece não está a ser totalmente consumida, bem poderia ser utilizada como apoio às necessidades dos utentes do parque, atente-se que os custos de estadia, muito mais elevados que qualquer parque de campismo, bem justificam um pouco mais de atenção.
A casa Abrigo S. João Baptista já cumpriu a acção que a Associação dos Amigos da Berlenga, em boa hora e mercê do esforço a carolice de uns tantos, lhe pôs como meta, qual seja o esperar a oportunidade de lhe ser dado destino digno e consentâneo com os interesses de todos os que têm direito de a usar, nomeadamente e com especial incidência da população de Peniche. Temos ultimamente assistido à ideia, a meu ver utópica, de fazer renascer alí a pousada de luxo, que já foi, e que, nos tempos que correm, não me parece que venha a ser possível concretizar, dado que qualquer mediano estudo económico da exploração possível, fará cair qualquer pretensão nesse sentido. Mas, porque ali existe o monumento que é a Fortaleza de S. João Baptista em si, necessário se torna, até como via da sua manutenção, que se estude a forma de o manter habitado e útil, se possível durante todo o ano. Como é meu hábito vou aqui, também, ter o atrevimento de adiantar algo, que não sendo a primeira vez que o faço como alguém se recordará, é pelo menos a primeira ocasião para o fazer de forma pública. Porque não acredito na possibilidade de se fazer renascer a tal pousada de luxo, mas considerando que é imperioso dar ao monumento a melhor utilidade possível, propunha que aquelas instalações fossem devidamente beneficiadas com as obras que lhe restituíssem o mínimo de dignidade e que a sua utilização pudesse ser partilhada por três finalidades específicas. Uma seria continuar a alojar utentes em regime de exploração hoteleira; outra, servir as missões de estudo que ali se deslocam em determinada época do ano; por fim, uma outra que seria a de ali se instalar uma mostra permanente, quer da história da ilha, quer dos objectivos da reserva ali instalada, como da fauna e flora locais, constituindo assim uma atracção bem importante para ocupação dos momentos que os visitantes ali passam. E como conjugar estes interesses? No meu entender, passaria pelo estabelecimento de um protocolo a concretizar ente a Câmara Municipal, a Associação dos Amigos da Berlenga e a Reserva Natural da Berlenga, de modo a que a exploração hoteleira fosse entregue a um concessionário, sob a supervisão daquelas entidades. Caberia depois tanto à AAB como à RNB coordenarem entre si as várias tarefas que, relativamente à Berlenga, é desejável que se desenvolvam, assumindo ambas que não são os plenos detentores da razão.
À Reserva Natural da Berlenga, cuja acção tem sido contestada e até incompreendida por alguns, quero deixar o meu testemunho de apreço pela acção globalmente desenvolvida, considerando-se que foi benéfica a sua intervenção nalgumas das metas que se propôs atingir. Atrever-me-ia a solicitar da sua parte um pouco mais de atenção para os interesses do turismo da minha terra.
Ao "Cabo Avelar Pessoa" à empresa sua proprietária e, em especial, ao seu jovem gerente de 90 anos, o nosso amigo Mário Miguel de Sousa, muito deve Peniche e a Berlenga em especial. Na verdade, eles têm sido o suporte daquilo que, em termos de turismo e satisfação do interesse público, se tem realizado na ilha. Talvez, por isso, se justificasse a criação de melhores condições de atracagem e segurança, aumentando o cais de acostagem nalguns metros.
À Associação dos Amigos da Berlenga é justo reconhecer o esforço e dedicação que, na pessoa daqueles que a orientaram ao longo destes quase vinte anos, têm demonstrado pela causa comum, de forma anónima e muitas vezes incompreendida. Salientaria, porém, que a sua acção não pode nem deve esgotar-se no trabalho de manter a Casa Abrigo a funcionar, como atrás preconizo. Ela deve dirigir a sua acção de uma forma mais global a tudo o que represente o interesse da Berlenga e de Peniche.
Finalmente, aos pescadores e operadores turísticos residentes na ilha, aqueles a quem a boa ordem e desenvolvimento mais interessa, solicitaria o melhor da sua colaboração e boa vontade no sentido de tornar agradável a visita dos que acreditam que vale a pena vir até nós.
EM 29 DE DEZEMBRO DE 2007, ACRESCENTARIA:
Continuamos a ter que estar atentos, agora que se prepara o regulamento de utilização da nossa ilha, na defesa dos nossos interesses, que são os da nossa terra, e procurando que os nossos representantes, nas várias autarquias, também o façam. É preciso referir que a ilha não pode passar de "MAL AMADA" a "DESALMADA" uma vez que a sua alma será a presença das pessoas, de forma ordenada.

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