segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

 

EM 01 DE SETEMBRO DE 1994 DIZIA - "Baleal, que é do seu sossego poético?"











Ao passarmos os olhos pelas apreciações e escritos que acerca deste local, outrora paradisíaco, foram produzidas por gente ilustre, a começar por Irmão António que em 1746 ali instalou um eremitério, concerteza embevecido pelo ambiente que as belezas do sítio proporcionavam; passando por Raul Brandão, que o descreveu como "a mias linda praia da terra portuguesa", também porque nele terá tido a oportunidade de gozar momentos de prazer, meditando nas suas belezas naturais e desfrutando do seu sossego; tal como, posteriormente, Raul Proença terá dito que " como estação de verão não tem rival em toda a Península" e ainda o nosso Mariano Calado no seu livro PENICHE NA HISTÓRIA E NA LENDA, que os penicheiros adoptaram como a sua bíblia, refere " Na realidade a amenidade do clima, o soberbo panorama envolvente, a transparência e frescura das águas, a brancura das areias da praia e o SOSSEGO POÉTICO do local, emprestam ao Baleal características que raras praias possuem", ficamos com matéria para meditar acerca do que pensam dele os que, neste momento, têm a obrigação de o preservar.

Na verdade parece que esta peça importante do nosso património histórico e turístico está entregue ao sabor dos devaneios de toda a gente, Têm sido praticados os maiores atentados tendentes a acabar de uma vez por todas com aquilo que, como refiro no começo deste escrito, foi motivo de elogio e apreço fundamentado.
Ainda antes da construção da estrada de acesso feita sobre o enrocamento de segurança das areias da praia, já alguns residentes faziam nascer as mais aberrantes construções, porventura na sua grande maioria clandestinas, em aproveitamento de todos os pequenos espaços tendentes apenas à satisfação dos seus interesses imediatos, pondo de parte todo o sentimento de harmonia que um local como aquele deve ter e desprezando o interesse colectivo.
Após a instalação da "auto-estrada" começou a época do salve-se quem puder, todos têm o direito de usar as maravilhas do progresso e, portanto, o carrinho à porta é uma comodidade que ninguém dispensa e por acréscimo, claro, também os convidados de cada um usufruem desse direito e todos os que chegam em visita o fazem comodamente instalados nas suas viaturas, por vezes mais interessados em mostrar o carrinho ou ocupar mais uns minutos do fim de semana, do que apreciar o que de belo podiam desfrutar através de um salutar e descansado passeio a pé. É assim que, como assinalável índice de progresso, já contei 183 viaturas estacionadas na denominada ilha.
Atentos e procurando dar satisfação a todo este tipo de desenvolvimento, logo os serviços competentes se preocuparam em dar condições de estadia a quem ali demandasse, criando o circuito que melhor facilitasse a circulação rodoviária, organizando um parque de estacionamento na zona norte da ilha, ainda que para isso tivessem sacrificado uma zona de rochas milenárias, entre as quais crescia a vegetação natural do local e que constituíam elementos embelezadores da zona, parque, por ora, ensaibrado e portanto levantando nuvens de pó, mas que se está mesmo a ver ainda será um dia asfaltado, tal como todos os arruamentos locais, substituindo a calçada à portuguesa que já existiu, se para tal derem liberdade de acção ao bom gosto que por ali tem passado.
Quem escreve estas linhas nunca teve com o Baleal uma relação para além de admiração das coisas belas, daquelas que, como outras, existentes na nossa terra, não podem ser usadas e danificadas, ainda que para prazer e enriquecimento de uns tantos, é por isso que mantenho a esperança de que os próprios utentes e interessados na ilha, em reflexão profunda acerca dos prejuízos irreparáveis que a qualidade de vida daquele lugar já sofreu, se venham a unir exigindo a reposição do passado, ainda que, para isso, tenham que abdicar das comodidades que lhes foram trazidas em nome de um progresso balofo.
Certamente que não se pretenderá voltar à época do burro com lençol branco a cobrir a albarda para passar a senhora para o outro lado, mas dava jeito devolver ao local a tranquilidade de outros tempos. Certamente que não se contestará, a maneira de o fazer é que reclamará o engenho e boa vontade de todos os interessados.
Fiz parte da Assembleia Municipal que perdeu oito horas a discutir o regulamento do trânsito na ilha, que constatamos nunca haver funcionado. A minha opinião foi sempre a de que não deveria ali existir trânsito, no sentido formal do termo, mas, porque já haviam construído a via de acesso, poderia permitir-se a sua utilização, apenas para descarga de pessoas e mercadorias, até uma rotunda que deveria ter sido construída no seu terminus, do lado da ilha. As viaturas não estacionavam naquela rotunda e regressariam ao local oposto. Certamente que esta situação pressupõe a existência de um parque devidamente organizado, controlado e vigiado, onde os residentes da ilha teriam o seu lugar assegurado.
Ainda mais uma reflexão acerca das praias do Baleal que, como todas as outras de Peniche, apenas são limpas no começo da época balnear. Dado o clima particularmente ameno que se faz sentir na nossa região nas épocas de primavera e outono, em que algumas destas praias são utilizadas durante os fins de semana, afigura-se-nos que as mesmas deviam ser cuidadas ao longo de todo o ano. Evitava-se, assim, que o lixo fosse ficando enterrado em várias camadas, que a limpeza única não atinge e que mais tarde o uso da praia acaba por trazer à superfície.
Enfim senhores residentes, senhores comerciantes ali instalados e senhores responsáveis autárquicos, não deixem matar a galinha dos ovos de ouro.


MAIS UMA NOTA EM 17 DE DEZEMBRO DE 2007. -

Hoje a nossa edilidade já fixou uns cartazes a recomendar a circulação apeada dos visitantes. O estacionamento de viaturas na ilha, em dias de verão, ocupa o espaço livre das ruas. A circulação de viaturas é permanente, sem que as ruas estejam preparadas para tal. Desta forma o sossego já foi e o desgaste que toda esta turbulência provoca no ambiente vai neutralizando muita da beleza de outrora. Cabe-me reconhecer e elogiar o cuidado que tem havido na manutenção das praias.

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