terça-feira, 12 de janeiro de 2021
A FORTALEZA DE SÃO FRANCISCO (3)
A Guerra da Restauração e a fortificação abaluartada
No contexto da Guerra de Restauração (1640-1668), nas Cortes
de Lisboa, já em 1641, os procuradores do concelho de Atouguia advertiram para
a necessidade de fortificar a praia da Consolação e de se iniciar as obras
defensivas em Peniche, pois só estavam concluídos o Fortim do Redondo e as
muralhas adjacentes.
Em 1642 o Conselho de Guerra enviou o engenheiro-mor Charles
Lassart (à altura em Cascais) a Peniche para verificar as obras e averiguar a
necessidade de alterar o projeto.
Oito navios estrangeiros fundearam em 1644 nas águas das
Berlengas. No ano seguinte (1645) as obras em Peniche estavam concluídas,
conforme inscrição sobre o Portão de Armas da fortaleza, que reza:
"ESTA FORTALEZA FOI COMEÇADA PELO INVENCÍVEL CONDE
LUÍS, DUAS VEZES VICE-REI DA INDIA, POR ORDEM DO SERENISSIMO REI D. JOÃO III E,
INTERROMPIDA DURANTE XII LUSTROS PELA TIRANIA DE CASTELA, FOI CONCLUIDA,
IMPONENTE E TEMIVEL, PELO CONDE JERONIMO, SEU DESCENDENTE, SOB O AUGUSTISSIMO
D. JOÃO IV, LIBERTADOR DO REINO. CONFIA-O ESTA LAPIDE Praça-forte de Peniche. E
À POSTERIDADE. ANO DO SENHOR DE 1645."
Em 7 de agosto de 1657 D. António Luís de Meneses, 1.º
marquês de Marialva, Charles Lassart e Simão Mateus deslocaram-se a Peniche
para efetuarem um desenho mais conveniente da frente abaluartada. Na ocasião
acordaram "(…) que se devia fortificar a vila de mar a mar com dois
baluartes e dois meios
Em 1658 D. Jerónimo de Ataíde, foi nomeado para
superintendente das obras da praça de Peniche, sendo assistido pelo Governador
da Praça, Manuel Freire de Andrade.
Em 1666 teve lugar o ataque da armada espanhola, sob o
comando de D. Diego de Ibarra, ao Forte da Berlenga, seriamente danificado na
ocasião.
O século XVIII
Em 1702 teve lugar a nomeação de Luís Estevão para Capitão
Engenheiro da Praça de Peniche Nesse mesmo período, em 1721 faltavam
terraplanar alguns baluartes na cortina oriental e construir uma contraescarpa
que obstasse a invasão das areias, que dificultavam a navegação, e registou-se
a reconstrução do Real Hospital Militar de Peniche.
O terramoto de 1755 arruinou parte da cortina do Morraçal de
Peniche de Baixo
Na sequência do atentado a José I de Portugal (1750-1777),
D. Jerónimo de Ataíde, 11.º conde de Atouguia - acusado de cumplicidade no
processo dos Távora – teve confiscados todos os bens e picadas as suas armas
sobre o portão da Praça-forte (1759).
Em 1773 procederam-se obras de remodelação da capela de
Santa Bárbara, no interior da fortaleza. Pouco depois, em 1777, o governador da
Praça, Veríssimo Ferreira de Matos Souto, produziu um relatório endereçado
Praça-forte de Peniche ao visconde de Ponte de Lima, onde o informava sobre o
estado das defesas de Peniche.
Em 1800 o Tenente-coronel do Real Corpo de Engenheiros,
Eusébio Dias Azedo, empreendeu a construção de novas baterias, com o objetivo
de dificultar o desembarque nas enseadas.
O século XIX
As dificuldades económicas acarretadas pelas sucessivas
obras defensivas na Praça, levaram a que a população, em 1805, da Praça-forte
de Peniche, pedisse mercê a Maria I de Portugal (1777-1816) para lhe ser
facilitado o pagamento dos impostos, ao que a rainha atendeu favoravelmente.
A defesa proporcionada pela Praça-forte, entretanto,
revelou-se ineficaz no contexto da Guerra Peninsular (1808-1814) quando da
invasão napoleónica sob o comando de Jean-Andoche Junot, quando aqui
desembarcaram tropas franco-espanholas (dezembro de 1807). No ano seguinte
(1808) enquanto as tropas napoleónicas construíam uma bateria no carreiro do
cabo e no Porto da Areia, iniciaram o levantamento de um fortim no Baleal.
Trecho 03
-continua-
Etiquetas: Fortaleza
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